Guerra do Futebol – a construção da rivalidade entre Honduras e El Salvador
A rivalidade existente entre Honduras e El Salvador deriva de fatores ocorridos desde a independência dos países e perduram até os dias atuais. Entre os principais problemas que os países enfrentam, se destaca a questão fronteiriça, as relações comerciais pós - MCCA, a exacerbada concentração de renda de El Salvador, o processo de migração da população salvadorenha para Honduras e tem como ápice, as eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, quando os dois países se enfrentam no campo e nas ruas.
Ambos os países se originaram da divisão do antigo Reino da Guatemala, área que hoje compreende a América Central, com esta divisão tem início as divergências entre os dois países. El Salvador se sente prejudicado com um território menor e, além disso, as fronteiras não foram bem definidas, o que ainda permanece na pauta de discussão dos países, com diversas tentativas, através de métodos pacíficos de solução de controvérsias, todas sem êxito. Com esta dificuldade fronteiriça, o fluxo de pessoas aumenta muito entre os países e esta migração ocorre muito fortemente da parte dos salvadorenhos, que vão para Honduras, um país que apesar de ser mais pobre, oferece alguma possibilidade de trabalho no campo e nos centros urbanos, já que em El Salvador há uma intensa desigualdade social.
As relações comerciais estabelecidas entre El Salvador e Honduras após a formação do Mercado Comum Centro-Americano (MCCA), também influenciou no atrito entre os dois países. O MCCA surgiu na tentativa de promover a paz na região da América Central, afetada por graves conflitos bélicos e de criar um mercado comum. Devido ao regime do MCCA de livre comércio, Honduras passa a importar muitos produtos de El Salvador, essa intensa relação comercial desperta a atenção dos hondurenhos, que percebem uma dependência de Honduras perante El Salvador.
A população hondurenha se tornava cada vez mais insatisfeita com essa situação. Via-se prejudicada com as relações comerciais após a consolidação do MCCA e percebia os salvadorenhos ocupando as vagas de trabalho tanto nas companhias norte-americanas estabelecidas em Honduras como na agricultura.
A rivalidade está então desenhada. Os hondurenhos atribuiam aos salvadorenhos a situação na qual se encontravam, de escassez de empregos, situação econômica ruim e o permanente impasse na definição das fronteiras entre os países. Somado a todos estes fatores, ainda existe a imprensa hondurenha, que tem um importante papel na efervescência dessa rivalidade, já que passa a manifestar-se contra os salvadorenhos, numa campanha chamada: anti-salvadorismo, dava manchetes de notícias como: “Temos mais salvadorenhos do que hondurenhos no país”.
É neste momento que ocorrem as partidas de futebol para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1970. Quando a partida era em Salvador, os salvadorenhos hostilizavam a seleção hondurenha e vice-e-versa. Por conta dessas ações, cada seleção conseguiu vencer o jogo em que esteve em seu país, a justificativa é a de que a seleção visitante não pode descansar, ao menos dormir para jogar.
A população de Honduras acreditando que seus torcedores haviam sofrido um massacre em El Salvador inicia um movimento de violência contra os imigrantes salvadorenhos que ainda estavam em território hondurenho. Como resposta, a Assembléia Nacional de El Salvador prepara seus militares para invadir Honduras. Diante da influência da imprensa de ambos países em aumentar o conflito é difícil definir exatamente o que ocorreu naqueles dias e se os atos de violência tiveram realmente a proporção que foi noticiada.
A guerra durou quatro dias, ficou conhecida como a Guerra das 100 horas, ou a Guerra do Futebol. A OEA, que já estava planejando o cessar fogo vai para Honduras intervir e garantir a segurança dos salvadorenhos que habitavam o país vizinho. Honduras e El Salvador eliminam todas as relações comerciais. Na tentativa de solucionar o conflito, os países focam na delimitação das fronteiras, no entanto, como já foi exposto, a questão fronteiriça é apenas um item entre um conjunto de fatores que influenciou a construção de uma rivalidade entre as populações, tal rivalidade se “impregnou” na mentalidade dos dois povos e aumentou com o passar do tempo, eclodindo na guerra.
A guerra entre os países não foi ocasionada pelo futebol, os atos de violência ocorridos durante as partidas de futebol, foram a exarcebação de um sentimento já existente entre os hondurenhos e salvadorenhos, com a contribuição da imprensa em incitar a população e aumentar a tensão entre os países. Podemos dizer que uma seleção de futebol é objeto de identificação da população com sua pátria. Envolvidos pela euforia e patriotismo, os jogos de futebol entre as seleções despertaram a comoção nos dois países que expressaram nas seleções e seus torcedores, toda a rivalidade duradoura e clima de hostilidade que se arrastava há anos entre os países. As partidas foram a explosão do sentimento de rivalidade iniciado pouco depois da independência dos países e se tornou rivalidade cultural entre as populações.
Referências
< http://www.ca.ufsc.br/ela/setima/texto5.doc>
Acesso em 12/10/2008
<http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&task=view&id=3117&Itemid=130>
Acesso em 11/10/2008
< http://impedimento.wordpress.com/2008/02/05/momo-na-banheira-a-guerra-do-futebol/>
Acesso em 13/10/2008
< http://scm.oas.org/doc_public/PORTUGUESE/HIST_07/CP17650P07.doc>
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<http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&task=view&id=3117&Itemid=130>
Acesso em 12/10/2008
< http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi->>bin/PRG_0599.EXE/3742_6.PDF?NrOcoSis=7146&CdLinPrg=pt>
Acesso em 13/10/2008
< http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/5000048892_02_cap_02.pdf>
Acesso em 14/10/2008
segunda-feira, 30 de março de 2009
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