segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Poncho: objeto de identificação cultural da Comunidade Andina

Pedro Henrique Ewald, Tatiana Torres Bethancourt

Quando nos perguntamos sobre as características do povo andino nos deparamos com diversas respostas. Os países, unidos por histórias, heranças, idioma e cultura, nos mostram várias características e similaridades em comum. Dentro da Comunidade Andina, hoje formada por Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, nós notamos estas similaridades e singularidades em um elemento cultural em comum: o poncho.

Peça de vestuário usada em todos os países da comunidade, como também em seus antigos membros, Chile e Venezuela, e por povos da Argentina e sul do Brasil, o poncho é uma peça de tecido com uma abertura no centro, para se passar a cabeça e apoiar nos ombros. 

O poncho é sem dúvida, uma peça de roupa que pode ser considerado de uso universal, pois já foi usado por antigas culturas de todos continentes.  Segundo o etnógrafo Câmara Cascudo, o homem hispânico recebeu das antigas culturas mediterrâneas a “toga” (pénula) romana, ou seja, uma capa que poderia ser usada tanto para viagens ou para guerra.

Essa herança espanhola foi influenciada pelas culturas tecelãs do México, América Central e dos países andinos, até chegar ao ponto de se tornar uma vestimenta do dia-a-dia. Encontram-se registros da existência do poncho desde o século XIII, da Califórnia até o extremo sul dos Estados Unidos. Supõe-se que o poncho tenha origem no período pré-colombiano, devido alguns rastros encontrados que indicam sua existência e utilização, nas costas peruanas.

Existem diversos autores que já estudaram e tentaram definir a origem do termo poncho, porém, esta não é uma tarefa fácil. Mas pode-se definir como se caracteriza um poncho: uma peça quadrangular com uma abertura longitudinal no centro, por onde se passa a cabeça, possuindo uma grande variedade de cores e tecidos, que podem ser lã de lhama, alpaca ou vicunha.  Desta maneira, dependendo do tamanho do tecido e da altura da pessoa, cobre-se todo o tronco e uma parte das pernas. Alguns ponchos vindos do Chile e da Bolívia não passam da altura da cintura, enquanto outros, chegam quase até a altura dos pés, chamados de “talares” (talones, pés). Ele é extremamente importante, principalmente nestas regiões pois suas principais funções são, proteger da chuva, da poeira, do sol e do frio. Para viagens nestes países, seu uso é praticamente indispensável.

Os padrões de cores usados nos ponchos é um dos aspectos que caracterizam o poncho de acordo com sua região. Em determinados locais, usam-se mais as cores azuis e verdes, porém em outras, prefere-se o uso de ponchos de cores mais variadas, e em alguns casos, até com um certo padrão, por exemplo, listras horizontais e, também faz-se o uso de ponchos com capuz, para melhorar sua proteção.

Com o passar do tempo, o poncho foi se adaptando nas diferentes culturas que o abraçavam tanto como objeto de moda, como de utilidade mais específica. Em diversos países, é comum observar o exercito usando uma vestimenta do mesmo padrão que o poncho, porém, feito de material impermeável, como a lona, e com capuz.

Na moda, o poncho se tornou um ícone de reconhecimento internacional. Não só modelos e atrizes internacionais o estavam deixando-o famoso, mas até os presidentes, como Lula e Bush, utilizaram esse símbolo que deixa de ser algo exclusivo das comunidades andinas, para se tornar uma peça de roupa de reconhecimento mundial.

Bibiografia

Comunidad Andina – Quiénes somos. Disponível em:www.comunidadandina.org/quienes.htm. Acesso em: 03 dez. 2008.

Comunidad Andina – Cultura. Disponível em: www.comunidadandina.org/cultura.htm. Acesso em: 03 dez. 2008.

WIKIPÉDIA EN – Poncho. Disponível em: en.wikipedia.org/wiki/poncho. Acesso em: 03 dez. 2008. 

WIKIPÉDIA PT – Poncho. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/poncho. Acesso em: 03 dez. 2008.

Iniciativas de integração cultural no Mercosul

Daniella Marques Burghera, Mariana Zequeto, Vivian Alves

O MERCOSUL é a União Aduaneira entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que tem como objetivo alcançar uma integração econômica consolidada, o livre comércio entre os países citados, uma política comercial comum assim como o livre movimento de fatores produtivos. Nessa integração existe o estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC) e a adoção de uma política comercial comum em relação a outros Estados ou blocos econômicos. Os Estados da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela são Associados ao bloco.

Em 2005, a Presidência Pro Tempore do Uruguai no bloco criou a Somos Mercosul, com o apoio da Fundación Friedrich Ebert en Uruguay (FESUR), que tem por objetivo envolver a cidadania no processo da integração regional, gerando novos espaços para que a sociedade civil e os governos locais possam debater, formular demandas e participar dos processos decisórios. Esse é um programa de ações sociais, políticas e culturais acordado entre os governos com a sociedade civil organizada dos países membros do MERCOSUL.

Desde os primórdios do MERCOSUL se era cobrado uma maior participação social no bloco, pois assim seria de acordo a iniciativa cultural, regional e estudantil para um fortalecimento do bloco. Mas somente em dezembro de 2006 durante a I Cúpula Social do MERCOSUL é que foi ratificada a Agenda Social emanada do I Encontro por um MERCOSUL Produtivo e Social, evento ocorrido em julho daquele ano em Córdoba, durante a  XXX Reunião de Chefes de Estado do MERCOSUL. Também se comprometem à promoção e a proteção dos direitos humanos no MERCOSUL e Estados associados, saudando a criação do Grupo de Trabalho sobre Educação e Cultura em Direitos Humanos e enfatizando a importância de assegurar o direito à verdade e à memória.

Faz-se necessário entender que para que haja um avanço rumo a um MERCOSUL mais efetivo e democrático é fundamental enfatizar as dimensões política, social, trabalhista, ambiental e cultural da integração regional, em complementação às dimensões comercial e econômica.

Um bom exemplo dessa expectativa é descrito por Talita da Silva em A Influência da Cultura na Integração do MERCOSUL: “...não haveria integração caso os países membros não estivessem dispostos ao menos a compartilhar suas culturas. A cultura, bem como a criação de uma identidade comum, constituem elemento estratégico na formulação de políticas de desenvolvimento regional e contribuem, dessa forma, para o aprofundamento da integração. É como se a cultura constituísse matéria-prima para a aceleração de processos de integração regional. Quando as pessoas de um país percebem que tem seus valores respeitados, as razões para as barreiras físicas desaparecem. Diante de uma identidade comum já criada, os conflitos passarão cada vez mais longe do bloco e a integração será mais profunda e mais acentuada.”

No último 6 de outubro o presidente Lula assinou um decreto para facilitar acesso dos movimentos sociais ao MERCOSUL, criando o Conselho Brasileiro do Mercosul Social e Participativo, responsável pelo programa de mesmo nome. O decreto foi feito em prol de ampliar a participação do cidadão, dos movimentos e instituições sociais nas atividades do Bloco, segundo o governo. O Programa vai coordenar iniciativas culturais, educativas, sociais e produtivas, de modo a fomentar discussões sobre temas da integração e encaminhar sugestões da sociedade civil.

Nesse contexto cultural, partindo da necessidade de resgate de nossas manifestações artístico-culturais de caráter folclórico e do fomento de manifestações de projeção folclórica, tendo consciência de que os usos, costumes, vocábulos, danças, ritmos, instrumentos musicais, tidos como típicos do Rio Grande do Sul, não são em sua maioria, exclusivos do território hoje pertencente ao nosso Estado e sim compartilhado por extensa área geográfica do centro sul da América do Sul, surgiu o Programa Grito Pampeano, com o objetivo de apresentar diferenciada seleção musical, que abrange toda esta área geográfica que possui semelhanças culturais marcantes.

A idéia surgiu no início do ano de 2005, com os acadêmicos de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, Bruno Medeiros Donato e Eric Silveira Batista Barreto, que passando do plano das idéias, resolveram tomar iniciativa. Por intermédio do acadêmico de Biologia, Luciano Dutra Almeida, apresentaram a proposta à Rádio Federal FM, que abraçou a causa do Grito Pampeano, que foi ao ar no final do mesmo ano. Em pouco mais de um ano no ar, o programa conseguiu satisfazer os ouvidos dos que já conheciam a música gaúcha da Argentina e Uruguai, e que sentiam a carência de um programa que as veiculasse. Conseguiu também fazer com que apreciadores da música nativista feita no Rio Grande do Sul, passassem a conhecer e admirar as obras equivalentes de além fronteiras e ainda cativou uma parcela significativa de ouvintes que ainda não conheciam a música do homem de bota e bombachas.

O Programa Grito Pampeano serve como uma expressiva forma de congregação e acolhimento da importante colônia de argentinos e, em maior número, uruguaios que há em Pelotas e região. Outra marca do programa é a veiculação de músicas de festivais nativistas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que acontece muitas vezes em primeira mão, algo importante uma vez que nestes festivais surgem e surgiram os maiores talentos do nativismo. Atualmente o programa Grito Pampeano está se tornando um projeto de extensão da UFPel, do qual fazem parte os acadêmicos vinculados a UFPel. Pode-se perceber, ainda que de forma implícita, o fortalecimento do Mercosul, por ser a arte e notadamente a música, um elemento de integração de povos.
O Programa vai ao ar todo domingo às 17 horas e reprisado nas quartas às 20 horas, na Rádio Federal FM 107,9.


Bibliografia Consultada

SILVA, Talita da. A Influência da Cultura na Integração do Mercosul. Santo André, 2007.



CARICOM – A indústria cultural do bloco

Características do Caribbean Community ou Comunidade do Caribe CARICOM *

Rafael Pires de Lemos



O bloco foi formado por ex-colônias de potências européias que, após a sua independência, viram-se na contingência de aliar-se para suprir limitações decorrentes da sua nova condição e acelerar o seu processo de desenvolvimento econômico.

Além de incentivar a cooperação econômica entre os membros, a organização participa da coordenação da política externa e desenvolve projetos comuns nas áreas de saúde, educação e comunicação. Como sabemos, o Caribe é uma região formada por arquipélagos, o que proporciona um isolamento devido sua posição geográfica. Então, quais os métodos que os países encontraram para a formação do bloco?
Como dito anteriormente, este processo de integração seria para, primordialmente,  sanar as falhas econômicas dos países membros, criando assim um mercado comum, aonde haveria uma livre circulação entre os adeptos. Há até um passaporte do CARICOM, para a circulação de pessoas e bens. Mas, o que facilitou este processo de integração foi, sem dúvida, a proximidade cultural entre estes países caribenhos. 
A indústria cultural

O setor cultural e criativo refere-se a estética, identidade, bens, serviços e propriedade intelectual. Ele incorpora um vasto conjunto de atividades que fazem circular sons, palavras e imagens, ou uma combinação das anteriores. Isso se aplica ao contexto artístico e criativo, às obras que são identificáveis como commodities e à serviços que estão à venda ou em exibição em alguns mercados locais ou arena pública. Em suma, a expressão cultural descreve as indústrias criativas e as atividades econômicas dos artistas, das artes e das empresas culturais, com fins lucrativos, bem como sem fins lucrativos, na produção, distribuição e consumo de cinema, televisão, literatura, música, teatro, dança, artes visuais, radiodifusão, multimídia, animação, moda, etc. 

O setor não é apenas uma arena comercial, é um espaço simbólico e social onde valores espirituais, significados psicológicos e  prazeres corporais são exibidos, promulgados e representados. Dessa perspectiva, indústrias culturais/ criativas desempenham um duplo papel: eles são uma importante área para  o investimento na nova economia do conhecimento e um meio de reforçar os valores espirituais e identidade cultural. Esta é a razão pela qual a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) recomenda que os países deveriam “maximizar potenciais de contribuição econômica”, bem como “facilitar a divulgação endógena da criatividade cultural, tanto nacional como mundial”.

Em termos econômicos, os setores das indústrias culturais/ criativas podem ser classificados em função da extensão dos direitos do autor consubstanciado no serviço ou produto. A maior parte dos setores selecionados para este estudo fazem parte do núcleo criativo, indústrias para as quais é o direito autoral a característica central de fabricação, desempenho, radiodifusão, distribuição, varejo e assim por diante. Outra categoria é uma indústria independente de direitos autorais, que geram esses equipamentos que o núcleo criativo de serviço (por exemplo, instrumentos musicais como panelas de aço). A última categoria é a indústria parcial de direitos autorais, aquelas atividades que têm apenas uma parte da sua produção atribuível a direitos autorais. 

Os setores das indústrias culturais/ criativas também são distintivos na medida em que têm várias redes de transação e fluxos de rendas. O setor gera receitas provenientes da venda de bens (por exemplo, as vendas de mercadorias), prestação de serviços (por exemplo, honorários profissionais) e os licenciamentos de propriedade intelectual (por exemplo, royalties). As indústrias culturais/ criativas também criam circulação de bens, serviços e propriedade intelectual. Neste sentido, não são definitivas as mercadorias que são produzidas nas indústrias culturais/ criativas. Conseqüentemente, medir o impacto econômico e o desempenho dos setores exige uma sofisticada gama de ferramentas de medição e análises. No Caribe, o desafio é ainda agravado pela falta de um quadro institucional para a recolha e a publicação de dados relevantes sobre o setor em toda a região do CARICOM. 
Abaixo, alguns exemplos de indústrias que compõe a indústria cultural do CARICOM, e que favorecem a amálgama do bloco:

Indústria musical:

A indústria musical caribenha engloba uma gama de produtos e serviços que podem ser classificadas em sete grandes áreas de atividade econômica. Destes, música 
produção, edição musical, e performance ao vivo são o núcleo principal ou de atividades econômicas, enquanto produção audiovisual, radiodifusão, administração e direitos autorais são considerados atividades econômicas secundárias, uma vez que fornecem serviços de suporte essencial para o funcionamento eficaz da indústria em cada território.
O CARICOM pode se orgulhar de ter um diversificado repertório de música indígena, juntamente com um crescente foco na produção musical mundial nos gêneros de jazz, rock e gospel. Ao longo dos anos, os gêneros indígenas, em especial gêneros reggae / dancehall, calypso, soca, zouk e salsa tornaram-se comercializáveis através de produção recorde. Esta situação tem evoluído para uma constante atividade empresarial em toda a região e tem impelido a popularidade desses gêneros fora da região.

Indústria audiovisual:

Também temos o setor audiovisual, que inclui filmes, vídeos e produções de televisão. A indústria cinematográfica e de vídeos caribenha ainda está na infância. A região produz uma gama de vídeos musicais, documentários corporativos, propagandas de televisão ao vivo e mostra inclusive notícias, talk shows, esportes, outros carnavais e festivais culturais nacionais. Poucas produções nacionais são vistas fora de seu país, para além das telenovelas. 
Enfim,  levando em consideração estas afirmações sobre as indústrias culturais do CARICOM, podemos dizer que este processo de integração se sustenta pelo combate da influência norte-americana no território caribenho. Sabemos que sua indústria cultural (norte-americana) é avassaladora, e graças às técnicas que disponibilizam, como rádio, TV, jornais, Internet, exercem uma influência pesada nos demais países/ blocos. 
Na América Latina e Caribe em especial, o discurso democrático e a Doutrina Monroe foram o alicerce para a construção de um império americano nessas regiões. As máquinas estatais dos países latino-americanos e caribenhos eram totalmente dependentes e vulneráveis ao governo de Washington. 
Sabendo disso, não podemos negar que os países latino-americanos e caribenhos mantém um anti-americanismo muito forte, fomentado principalmente pela própria indústria cultural, o que facilita ainda mais a coesão do bloco em questão, o CARICOM.
Referência Bibliográficas:

ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural e Sociedade, 4ª edição, São Paulo, Editora Paz e Terra, 2002.

MENEZES, Alfredo M; PENNA FILHO, Pio. Integração Regional: os blocos econômicos nas relações internacionais. 1ª edição, São Paulo, Editora Campus, 2006. 

Do tambor ao toca-discos

No mundo da cultura, o centro está em toda parte

Site oficial do CARICOM

Wikipédia

UNESCO, International Flow of Selected Cultural Goods and Services, 1994 – 2003. www.unesco.org, acesso em 20/10/2008

A Televisão na Bolívia

Fabrício Maciel, Nadia Abdalah, Ana Carolina Alves

Com o aprofundamento do estudo sobre o papel que a televisão na Bolívia, um dos meios de maior capacidade de fornecer informação nos dias atuais, o que se pode constatar é uma situação alarmante.

Além da tardia chegada do meio de comunicação ao país que é nitidamente hoje o mais pobre de todos os membros não só da Comunidade Andina, como também de toda a América do Sul, a televisão foi utilizada como ferramenta ideológica pela ditadura de Hugo Banzer para combater as rádios dos mineiros que contestavam o regime e contavam com um crescente número de ouvintes. Assim como grande parte dos demais governos daquele país, o de Banzer fez o papel de opressor da população pobre e indígena com o propósito de beneficiar a elite branca.

De início, o único canal no ar pertencia ao Estado, evoluindo mais tarde para também mais oito canais pertencentes às Universidades controladas pelo Estado.
Em meados da década de 90, com a implementação dos canais privados, se estabelece no país o sistema de televisão que deu inicio ao formato que se observa atualmente na grade de transmissão. Pela falta de capital para gerir um canal como qualquer outro da América do Sul, parte dos canais distribuía de forma clandestina o sinal captado em países vizinhos e em sua maioria, os programas transmitidos eram telenovelas e filmes americanos.

De forma muito interessante, o que se observa também é que em cada região do país, um canal televisivo tem mais influência que o outro e todos esses canais de grande audiência no país são controlados ou ao menos estão ligados a grupos com interesses políticos e que se valem muito desse meio para obterem influência.
Mediante a tal fato é que se pode, não sem indignação, começar a entender o que de fato ocorre no país vizinho, que mensagem é passada, que informação é fornecida para essa população. A mensagem não é nada se não um grande vazio, que busca alienar ainda mais uma população que em parte não se identifica mais com suas raízes, e sim com filme e seriados americanos, telenovelas brasileiras e mexicanas, e desta forma não conseguem enxergar o que poderia vir a unir a população para que de fato houvesse apoio ao primeiro governante realmente interessado em defender os ideais de um povo que se reconhece como nativo daquele lugar e não nega as suas raízes, não quer parecer norte americano ou europeu.

O meio que tem o poder de fornecer capacitação para profissionais, fornecer conhecimento, formar cidadãos, no final das contas é utilizado da mesma forma com que teve origem naquele país. Uma forma de manter uma população desinformada, desestabilizada e o pior de tudo é que é a desconstrução de um passado, de uma origem, mantendo a sua audiência preocupada apenas com o que acontecerá no próximo episódio da telenovela e não dando foco ao massacre cultural que de fato ocorre em seu próprio país.

Referências bibliográficas:






1968 – Um panorama da América Latina e suas formas de integração

Gustavo Melo Cavani Calleff, Nelson da Silva Neto

O ano de 1968 não ficou restrito às manifestações, mentes e corações europeus e estadunidenses, muito menos ficou circunscrito no âmbito político e ideológico de Paris, Praga ou Chicago. Este ano representou o auge de intensas transformações culturais, comportamentais, relacionais e, conseqüentemente, políticas, que reescreveram e marcaram a história da segunda metade do século XX em diante. Os reflexos dessas mudanças puderam ser vistos e sentidos por todo o mundo, inclusive na América Latina. Foi um ano diferente de todos os demais, nele se deu o auge da contestação e da ação, por parte daqueles que ansiavam por mudanças profundas que revertessem em melhoras das condições de liberdade e de vida das pessoas. Os jovens se posicionavam contra um mundo de guerras e repressão, com slogans pichados pelos muros do tipo “é proibido proibir”.

No Brasil não foi diferente do resto do mundo. O auge das manifestações no Brasil foi sem dúvida, a Passeata dos Cem Mil, considerado um do mais importante protesto contra a ditadura militar. A manifestação aconteceu no Rio de Janeiro, organizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que dentre outras coisas mostrava seu descontentamento, com o governo militar, e o acordo firmado na área da educação entre o MEC e a Usaid (órgão americano que interferia nas universidades regulando a formação universitária conforme a demanda de mercado). Dentro do fervilhão dos acontecimentos, cheios de revoltas, protestos e repressão, a morte do estudante Edson Luis por militares, dentro do restaurante conhecido como Calabouço no Rio, foi um marco para que se desse a radicalização do movimento estudantil. Figuras como Che Guevara (morto em 1967) influenciaram todo um movimento de guerrilha armada que se espalhou pela América Latina, inclusive no Brasil, como o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), a Vanguarda Popular Revolucionário (VPR) ou a Ação Libertadora Nacional (ALN).

Outro exemplo do clima vivido foi o México, onde não existia uma ditadura oficializada, entretanto a mais de vinte anos era o Partido Revolucionário Institucional (PRI) quem estava no poder, mesmo com acusações de fraudes e corrupção. O país que na época era uma das economias que mais crescia no mundo, a população também aumentava de forma rápida e um grande número de jovem se encontrava na Cidade do México. A Universidade Autônoma do México (UNAM) também começou a ficar cheia de novos estudantes, e o eco de todos os acontecimentos que explodiam pelo mundo também podiam ser sentidos lá. O Estado Mexicano conseguia controlar todos os setores da sociedade, com exceção dos estudantes, que por isso eram reprimidos com muita violência, chegando a ser abatidos com tiros quando flagrados tentando colar cartazes ou pichar muros. Diante desta situação de falta de controle, e com uma Olimpíada prestes a acontecer no país, o governo mexicano temendo passar para o mundo uma imagem negativa vinculada a algum tipo de desordem no país, acaba reunindo os estudantes para uma negociação, que acaba virando uma grande chacina. Este trágico evento ficou conhecido como o massacre de Tlatelolco.

Em paralelo aos diversos tipos de manifestações que aconteciam na América Latina e no mundo, os Estados, sejam eles autoritários ou não, buscavam também formar alianças com objetivos políticos, econômicos e comerciais. Na América Latina ocorreram diversas tentativas de integração por parte dos Estados, uma delas é a Associação Latino-Americana para o Livre Comércio (ALALC), firmado com o objetivo principal de integrar os países pelo viés comercial. Celebraram um tratado que estabelecia preferências comercias entre seus membros além da progressiva redução de suas tarifas aduaneiras com o intuito de facilitar a circulação de mercadorias e criar um mercado comum latino-americano. 

Apesar dos diversos esforços entres as partes, a história da integração latino-americana sempre se mostrou problemática. Tantos eram os problemas que nos anos de 1980, a diversidade e a instabilidade das políticas econômicas dos países membros fez com que a ALALC desse lugar a Associação Latino-Americana de Desenvolvimento Integrado (ALADI). Mesmo com a nova tentativa de integração, acordos firmados bilateralmente, ou acordos firmados com outros blocos, Até mesmo a criação de novos blocos pelos países, dão a dimensão do fracasso na tentativa de integração da América Latina pelos Estados nacionais. Mesmo com esse fracasso da ALADI, o crescimento econômico dos países ocorreu, só que não houve de fato uma melhora nas condições gerais de toda a população. Foram poucos os que realmente desfrutavam dessa integração econômica e esse foi um dos fatores que fomentaram alguns protestos que ocorriam principalmente no Brasil e no México. Essa integração política, também acabou gerando um outro tipo de integração, por parte daqueles que estavam descontentes e que queriam mudar a situação. Essa integração que chamamos aqui de “integração contrária” pôde ser sentida quando se analisam todos os protestos da época, e na forma como se dava a organização estudantil na luta contra o Estado, mostrando todo o seu descontentamento e brigando por melhores condições ou mesmo apontavam para o sentido de uma nova organização que não conseguiu se por em prática.

Referências Bibliográficas

ALADI – Associação Latino-Americana de Integração. Associação Latino-Americana de Integração (ALADI). Disponível em: www.aladi.org. Acesso em: set. 2008.

BENEDITO, Mouzar. 1968, por aí... Memórias burlescas da ditadura, São Paulo, Publisher Brasil, 2008.

FRIGOLETTO, Eduardo. A Extinção da ALALC (Aliança Latino-Americana de Livre Comércio) e o surgimento da ALADI (Associação Latino-Americana de Desenvolvimento Integrado). Disponível em: www.algosobre.com.br/geografia/acordos-economicos.html . Acesso em: set. 2008.

GUILHON, José Augusto (org): Crescimento, Modernização e política externa. 60 anos de política externa brasileira (1930-1990), vol.1, São Paulo, Cultura editores/NUPRI-USP, 1996.

HOBSBAWN, Eric J. A era dos extremos. O Breve Século XX (1914-1991), São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

KURLANSKY, Mark. 1968, O ano que abalou o mundo, Rio de Janeiro, José Olympio, 2005.
SALLES, Edison; SIEBEL, Luis; MATOS, Paulo. 1968 e o Movimento Estudantil. Disponível em: josekuller.wordpress.com/5-1968-e-o-movimento-estudantil. Acesso em: set. 2008.

ZAPPA, Regina e SOTO, Ernesto. 1968: eles só queriam mudar o mundo, Rio de Janeiro, Zahar, 2008.